Quem é você nas prateleiras do mercado de trabalho?
Primeira edição
IDENTIDADE & PROPÓSITO
Propósito
Pro·pó·si·to
(latim propositum, -i)
O dicionário Michaelis define propósito como "intenção de fazer ou deixar de fazer alguma coisa” , “decisão após consideração e várias possibilidades; deliberação, resolução” e até “bom senso; juízo, prudência, tino”.
Com todo o respeito à publicação, eu tenho que discordar. Veja bem, se me coubesse algum bom senso ou juízo, certamente eu não teria escolhido jornalismo ou escrita como meu propósito de vida. Entre noites mal dormidas, salários desonrosos e condições de trabalho um tanto quanto questionáveis (digamos que se eu tivesse exercido um pouco de deliberação racional eu não teria escolhido levar gás de pimenta como algo plausível de acontecer em um dia de expediente), esse caminho não é necessariamente um espelho da boa prudência.
E já conheci muita gente assim. Recentemente, entrevistei um profissional em perseguir tornados e furacões. Ele vive a vida para, literalmente, arriscá-la – tudo para entrar em uma corrente que espirala destruição e morte por onde passa. De bom senso, eu diria, isso não tem muita coisa.
E arrisco dizer que esse sentimento dificilmente é incomum. Se você pudesse escolher o que faz a sua existência vibrar, tenho certeza que muitos apreciariam a possibilidade de escolher algo que tornasse a vida mais fácil. Que pagasse melhor, talvez. Que não precisasse estar em uma cidade tão agitada ou quem sabe um lugar tão remoto. Que tivesse um horário melhor de trabalho. Ou menos incertezas. Que não tornasse o ofício que temos que fazer, porém não queremos fazer, tão excruciante – porque queríamos estar passando os dias fazendo aquela coisa que nos atrai, mesmo que não faça sentido pra mais ninguém (ou não necessariamente pague tão bem as contas).
O negócio, Michaelis, é que o nosso propósito é como um cadarço entrelaçado em um tênis – faz parte da nossa identidade. Precisamos dele pra andar. E a gente nunca teve muita intenção de ser assim, mas apenas somos. Aquilo que nos move e nos dá brilho nos olhos reflete na verdade um pedaço muito profundo de nós, que não pode ser dividido – porque mesmo aqueles que escolhem o mesmo caminho, não o fazem da mesma forma ou necessariamente pelos mesmos motivos. Nossos passos são singulares, como nós.
Apesar de nosso propósito na vida tomar muitas formas e não se limitar a um só objetivo, ele sempre será intrínseco a nós. Não somos nós que o escolhemos intencionalmente – na verdade, vamos descobrindo quais são nossos propósitos ao longo da vida. É como uma grande caça ao tesouro – sentimos quando estamos longe ou perto daquilo que é precioso para nós ou somos atiçados por uma alegria inexplicável quando exercemos habilidades que parecem vir com facilidade de um lugar de nós que sequer sabemos dizer o que é. O nosso propósito nos proporciona um êxtase inigualável ao alcançar um objetivo – que até podemos conscientemente ir atrás, mas que muitas vezes não sabemos explicar por quê. E o que dá sentido à nossa vida e nos impulsiona a seguir em frente, mesmo quando tudo perde o sentido ou parece faltar direção.
Nesta edição, exploramos os propósitos que nos tornam singulares e compõem a nossa identidade. E esperamos que vocês, leitores, se inspirem para nunca deixar de seguir aquilo que faz o seu coração pulsar mais rápido.
Com carinho,
Alessandra Freitas